If I died tomorrow, would this song live on forever?

Boa noite, caros amigos.
Me peguei hoje, durante o dia, pensando no que aconteceria na minha vida, se fosse privado dos meus prazeres. E quando digo 'prazeres', me refiro a todos possíveis.
Escrever é um deles. Como poderia eu, se naquele momento em que o ônibus não chega ao terminal, não pudesse me dar ao luxo de pegar minha Pentel 0.5mm e rabiscar em uma folha solta no meu caderno, já sem espaços disponíveis devido a devaneios que ocupam setenta por cento das páginas. E que muitas vezes não passam de frases soltas, sem nexo com meus sentimentos, ou com o ambiente a minha volta.
Será que eu agiria da mesma forma, se não pudesse mais fazer isso? O quão parecido comigo eu seria? Ou será que eu teria algo em comum com o que sou agora? Questiono sobre o real sentido da existência em função das ações diárias e que, normalmente, passam despercebidas. Já pensou em se privar de algo que julga crucial? 
Imagine por alguns minutos, meu caro leitor, a sua vida sem algo que você julgue de suma importância no seu dia a dia, que pode fazer mudar completamente a sua tarde. Agora imagine você privado disso por uma vida inteira. Então me responda, você ainda seria a mesma pessoa, ou seria apenas a carcaça do que um dia foi você?
Na minha concepção, o que dá sentido a sua vida não é que queres dela, mas sim o que fazes dela. Cada pequena escolha que faz, como escolher jogar uma bituca de cigarro no lixo, ao invés de largar no chão, até as grandes decisões, como, por exemplo, usar heroína até ter uma overdose, constroem a tua pessoa, como ela é.
E as coisas que te dão prazer, não são escolhas, são vícios. Em outras palavras, não se tem como fugir, teus prazeres irão te moldar, assim como um viciado em crack molda a sua imagem, e tem de se algemar ao pé da cama para impedir que o vício mova seu corpo até o traficante mais próximo.
E se os teus vícios te moldarem de um jeito que não é do teu agrado? Como se livra de um vício? Força de vontade, você pode dizer. Pode até ser, digo eu, mas quem será o favorito a vencedor nesta briga de cabo-de-guerra? Tanto o meu lado otimista, quanto o pessimista tem a mesma opinião.
Enquanto digito, tenho as mãos trêmulas, sim, e não esconderei o motivo. Tenho muito medo do que escrevi, e cada vez que releio estas linhas, meu coração bate mais forte.
Ser privado das coisas que dão sentido aos meus dias, as coisas que abrem uma janela quando o ambiente está sufocante e hostil, me gera um sentimento de horror. É a perda total de sentido da vida, seria como chegar ao fim da trilha, onde a mata é fechada demais para se ver por onde está indo, e voltar não seria mais uma opção válida, pois a trilha de migalhas de pão foi comida pelos pássaros.
Estranho falar sobre isso, até porque, é estranho eu abrir meu coração desse jeito. Embora eu ache que nas condições atuais, exista um buraco na minha caixa torácica que o deixa exposto, deixando transparecer cada batida descompassada.
E agora, você, se abrirmos o seu peito, veremos um coração batendo, ou um vazio angustiante?

Andrew Mielczarski

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